terça-feira, 26 de abril de 2016

Musicalização infantil – Sua importância


O desenvolvimento dos afetos ocorre sim durante toda a vida, e a música é um excelente instrumento que subsidia a maturação já na infância. As relações desenvolvidas através desta prática ocorrem com o compartilhamento de experiências, expandindo a criatividade. Na prática, como toda arte, a música expressa os desejos humanos sob a ótica da individualidade, como também favorece o fortalecimento dos aspectos racionais.
Considerando que antes da prática educativa, a criança deve ter vivenciado a música em sua cultura, seja acompanhando por eventos musicais ou não estes aspectos são auditivamente desenvolvidos.  Esse contato social inicia-se já na gestação, com a presença materna.
Em seu artigo A vida dentro do útero, Kisilevsky descreve que muito embora o tato seja o primeiro sentido a ser desenvolvido pelo ser humano com dois meses de vida uterina, cabe à audição a função de dar ao feto o primeiro contato com o mundo exterior.  “A partir do quinto mês é capaz de ouvir sons externos e demonstrar reações de tranqüilidade e agitação, conforme os estímulos sonoros recebidos.” (Kisilevisky, 2009; p.40)
“No mundo intra-uterino antes de haverem palavras, existem sons. Ao ouvir um fonema, a rede de neurônios é acionada e ocorre a formação de conexões no córtex auditivo do cérebro, aspecto que deve ser considerado no processo da aquisição da linguagem da criança que analisa a receptividade do som antes mesmo de conhecer o significado dos vocábulos, essa mesma aptidão é utilizada no reconhecimento de um trecho musical. A articulação fonadora define parâmetros para obtermos as sílabas, os acentos que conduz ao fluxo de respirar e a aptidão para comunicação verbal. Esse parâmetro fonador-sonoro no conceito da música com duração, intensidade, altura e timbre do som são o mesmo para a voz falada e para a voz cantada. A entonação da voz, porém, alterna essa recepção vocal”. (Kisilevisky. 2009; p.40)
A linguagem do som se torna então a expressão das emoções humanas mais profundas. Assim, pensando na conotação dos sons percebe-se que a linguagem musical na educação infantil, nas aulas de musicalização, nas canções aprendidas em casa ou escola, comum no universo infantil, contribuem para a construção do universo emocional da criança.
Pode-se dizer que os sons e as emoções emitidas através da música dispõem ao indivíduo um desenvolvimento cerebral eficaz, estimulando a atenção e concentração, consequentemente sua criatividade e imaginação:
Sabíamos que a música ativa as circunvoluções temporais superiores do hemisfério direito, região do cérebro responsável pelos processos criativos, mas se viu que envolve também o esquerdo, que domina os processos lógico-matemáticos, sobretudo quando um trecho musical não é apenas escutado, mas executado (...). O cérebro, de fato, parece em condições de analisar separadamente os diversos componentes da música: enquanto o hemisfério direito assimila o timbre e a melodia, o esquerdo analisa o ritmo e a intensidade dos sons. E o faz envolvendo áreas delegadas às funções diversas, como a área da broca, diretamente relacionada à linguagem (...). (Cicerone, 2008; p.64).
Voz falada e voz cantada estão interligadas musicalmente em sua concepção, porém, a linguagem atinge sua plenitude no canto, visto que a voz falada utiliza apenas uma parcela ínfima dos recursos vocais, enquanto o canto permite o uso de todo o potencial, por sua grandeza, chega por vezes obscurecer a palavra.
A soma dos estímulos auditivos desenvolve na criança habilidades que não se restringem ao domínio da música. Ocorre, portanto, uma transferência de disposições, onde toda a personalidade e aspectos intelectuais, emocionais e sociais são favorecidos. Essas primeiras relações desenvolvem na criança aptidões, estimulam a sensorialidade, o prazer de aprender e relacionar-se. Essa busca de uma via intermediária entre o exercício do pensamento lógico e a percepção estética devia naturalmente inspirar-se no exemplo da música, que sempre a praticou.
Por ser essa ‘entidade invisível’, não palpável, mas sentida, a música desperta naturalmente na criança a ‘corporificação’ dos sons, transformando-o em máquinas, animais, brinquedos dotados de sentimentos e emoções. Essa audição associativa, claramente simbólica, transforma-se em instrumento de identificação musical para a discriminação dos elementos constitutivos da linguagem musical.
Este aprendizado este nem sempre verbal, que indiretamente estabelece uma relação entre a aprendizagem dos vocábulos e das impostações dos sons vocais. É por isso que na Educação Musical a musicalização inicia-se com o diálogo e interação entre educador e criança, com jogos de criação musical, brincadeiras inicialmente imitativas. A observação do professor aí nessa etapa é importante para compreender os interesses infantis no processo de aprendizagem inserindo dinamicamente os conteúdos para uma aquisição de aprendizagem interdisciplinar estimulante e integrada.

 “A ação musical deve preceder a reflexão, que o gesto deve antecipar-se à palavra; o ato de demonstrar deve ocorrer antes de qualquer explicação”. (Wallon 1995; p. 18). Essa compreensão muscular de envolvimento das ações e atos volitivos corresponde em primeiro plano o desenvolvimento cognitivo da criança, estimulando-as à percepção do mundo ao seu redor e a necessidade de respondê-lo e descobri-lo.
Portanto tanto a educação quanto à cultura devem receber prioridade num entendimento e análise da aprendizagem musical, na aprendizagem como um todo e de como essa relação se dá.
“Os elementos fundamentais da música dependem dos elementos fundamentais do ser humano: fisiológicos afetivos, mentais e que o problema do analfabetismo musical pode ser colocado sobre o mesmo patamar da problemática psicológica do analfabetismo verbal. (...) O Ser humano é universal, planetário. É normal considerar uma educação musical, planetária, baseada sobre a natureza humana dinâmica, sensorial, afetiva e mental. (...) A natureza humana é musical, é cósmica; ela é animada pelas forças vitais que anima os diversos reinos da natureza: vegetal animal e humana, e não se excluí eventualmente o supra-humano. (...) Se pode viver sem música, mais menos bem, e ainda dizemos: se pode fazer música sem saber ler e escrever, mas menos bem”. (Willems 1989; p. 39 e 40)
Nessa perspectiva, a musicalização infantil não busca apenas um respeito ou uma tolerância às diferenças, mas, ao contrário, suscita o convívio pleno com a diversidade humana, extraindo-se todas as riquezas que dele advêm.

Cicerone, Paola. Em Rítmo Musical in Per Musi n˚ 03. Minas Gerais: UFMG, 2008.
Kisilevisky. 2009. Nature childrens.
Wallon, H. A evolução psicológica da Criança ( Rio de Janeiro: Andes, s/n).
Willems, E. Sur les pas. (Ed Wilems. France. 1990).



 Autoria: Carlos Andrade Júnior - Psicólogo, Bacharel em Canto, Mestre em educação musical. Carlos (Caju) é educador de Musicalização na Casa Ideia.












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