O faz-de-conta
Segundo o Referencial Curricular Nacional Para a Educação
Infantil (RCNEI,
1998, p. 27), a fantasia e a imaginação são elementos fundamentais para que a
criança aprenda mais sobre a relação entre as pessoas, sobre ela mesma e sobre
o meio que a cerca. É na brincadeira que a criança experimenta outras formas
de ser, de pensar e de agir, e é onde o educador pode observá-la e comprovar
o que o brinquedo pode provocar nela.
Segundo Carvalho, Salles, Debertoli (2005, p. 124), não
existem brincadeiras sem regras, mesmo a situação imaginária
está rodeada de regras de comportamento. Estas
regras não são formais, portanto, não precisam ser ditadas, nem
explicadas. Elas já estão implícitas no contexto da brincadeira. Uma criança que brinca de motorista entra neste papel
e passa agir da forma que acha que um motorista deve agir. O que na vida
real pode passar aparentemente sem que a
criança perceba, é uma regra durante a brincadeira.
A
brincadeira do faz-de-conta, então, é uma brincadeira criada por uma situação imaginária acrescida de regras de
comportamentos sociais. Esses comportamentos
são aprendidos através das relações e trocas sociais com o meio de convivência.
Ao
brincar, a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida real. Isto porque a brincadeira
cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança. Vygotsky chama de zona de desenvolvimento
proximal o intervalo ao que o indivíduo precisa do auxilio do outro
para realizar uma tarefa e o ponto em que ele consegue realizar sozinho.
A
brincadeira cria zona de desenvolvimento proximal da criança que nela se comporta além do
comportamento habitual para a sua idade, o que vem criar para uma estrutura básica para as mudanças da necessidade e da
consciência, originando um novo tipo de atitude em relação ao real. Na brincadeira aparece tanto a ação na esfera
imaginativa numa situação de
faz-de-conta, como a criação das intenções voluntárias e as formações
dos planos da vida real, constituindo-se assim, no mais alto nível pré-escolar. (VIGOTSKY, 2000, p. 24).
Vygotsky, então, ressalta a importância da mediação do
outro para o desenvolvimento da
criança. Durante a brincadeira do faz de conta, a criança é capaz de influenciar o outro através de suas ações,
mas também pode ser influenciada pelas interações que a permeiam. Esta
criança aprende a forma e o jeito de brincar
com o outro, do mesmo jeito que compartilha suas vivências e ensina a
sua cultura através da brincadeira. Por ser uma situação imaginária, é também uma atividade em que a criança lida com
regras regidas pela cultura, aprendendo
a lidar com o grupo e respeito ao espaço e ao outro.
É na observação do outro e na repetição do ato do adulto
que a criança tenta
entender o motivo dos objetos e seus significados. A criança não apenas copia a ação, ela se apropria daquilo e o vive
intensamente. Por isso, ela não apenas brinca, mas se
relaciona e aprende. É através da brincadeira entre elas que a criança adquire experiências que contribuirão para a formação de sua
identidade e também as noções básicas para uma convivência social.
Imagens da Casinha na Casa Ideia |
Ana Paula Alvarenga (Coordenadora Pedagógica na Casa Ideia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário