quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A infância e o faz de conta

O faz-de-conta




Segundo o Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil (RCNEI, 1998, p. 27), a fantasia e a imaginação são elementos fundamentais para que a criança aprenda mais sobre a relação entre as pessoas, sobre ela mesma e sobre o meio que a cerca. É na brincadeira que a criança experimenta outras formas de ser, de pensar e de agir, e é onde o educador pode observá-la e comprovar o que o brinquedo pode provocar nela.
Segundo Carvalho, Salles, Debertoli (2005, p. 124), não existem brincadeiras sem regras, mesmo a situação imaginária está rodeada de regras de comportamento. Estas regras não são formais, portanto, não precisam ser ditadas, nem explicadas. Elas já estão implícitas no contexto da brincadeira. Uma criança que brinca de motorista entra neste papel e passa agir da forma que acha que um motorista deve agir. O que na vida real pode passar aparentemente sem que a criança perceba, é uma regra durante a brincadeira.
A brincadeira do faz-de-conta, então, é uma brincadeira criada por uma situação imaginária acrescida de regras de comportamentos sociais. Esses comportamentos são aprendidos através das relações e trocas sociais com o meio de convivência.
Ao brincar, a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida real. Isto porque a brincadeira cria uma zona de desenvolvimento    proximal       na criança.       Vygotsky       chama      de      zona     de  desenvolvimento proximal o intervalo ao que o indivíduo precisa do auxilio do outro para realizar uma tarefa e o ponto em que ele consegue realizar sozinho.
  
A brincadeira cria zona de desenvolvimento proximal da criança que nela se comporta além do comportamento habitual para a sua idade, o que vem criar para uma estrutura básica para as mudanças da necessidade e da consciência, originando um novo tipo de atitude em relação ao real. Na brincadeira aparece tanto a ação na esfera imaginativa numa situação de faz-de-conta, como a criação das intenções voluntárias e as formações dos planos da vida real, constituindo-se assim, no mais alto nível pré-escolar. (VIGOTSKY, 2000, p. 24).

Vygotsky, então, ressalta a importância da mediação do outro para o  desenvolvimento da criança. Durante a brincadeira do faz de conta, a criança é capaz de influenciar o outro através de suas ações, mas também pode ser influenciada pelas interações que a permeiam. Esta criança aprende a forma e o jeito de brincar com o outro, do mesmo jeito que compartilha suas vivências e ensina a sua cultura através da brincadeira. Por ser uma situação imaginária, é também uma atividade em que a criança lida com regras regidas pela cultura, aprendendo a lidar com o grupo e respeito ao espaço e ao outro.
É na observação do outro e na repetição do ato do adulto que a criança tenta entender o motivo dos objetos e seus significados. A criança não apenas copia a ação, ela se apropria daquilo e o vive intensamente. Por isso, ela não apenas brinca, mas se relaciona e aprende. É através da brincadeira entre elas que a criança adquire experiências que contribuirão para a formação de sua identidade e também as noções básicas para uma convivência social.
Imagens da Casinha na Casa Ideia
Com o faz de conta, a criança coloca para fora seus medos, anseios, desejos, expressa seus sentimentos mais profundos e aprende a conviver com eles. Colocando-se no papel do outro, a criança compreende e equilibra suas tensões e entende papéis sociais e as eventualidades do mundo adulto. 

Ana Paula Alvarenga (Coordenadora Pedagógica na Casa Ideia)

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